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uau, tem muito tempo que não escrevo/entro aqui.

mais uma daquelas coisas que começo e nunca termino. não que isso tivesse algum proposito específico para obter uma conclusão. acho que nunca pensei muito sobre o que seria isso, talvez seja por isso que este acabou meio abandonado.

tenho estado com muita fome ultimamente. não sei porque. ainda quero ir num nutricionista, começar a planejar minhas refeições com antecedência. tentar gastar menos, comer melhor. seria possível

ladies and gentleman

Honesto, Inspiração

eis mais um blog de moda. este não é de moda somente, porque sua definição de moda talvez não seja a minha. pessoalmente, é mais que expressão individual de humor, é conforto. sim. mais simples. puro. belo. conforto. algo tão almejado na fsociedade.

isso pode parecer loucura, mas conforto aqui não insinua “ausência de dor”, existe conforto na dor. loucura. quero dizer que terão bolhas e quero que esteja preparado. quero que ache no meio dos ciclos eternos os pontos que te deixam a vontade, seja lá como for, confortável.

também não tem nenhuma resposta aqui. é uma discussão. um bate teclas entre telas estranhas porém similares. até idênticas. não mais tão ignorante mesmo desconhecendo.

uma vez

“pelo menos isso”

essas três palavras acertaram meu cérebro como uma bigorna. como descrever a profundidade da aversão que senti ao ouvir isso. no dia mesmo foi uma discussão a base de gritos, não foi para frente. preferiram abafar, sufocar, deixar o assunto morrer silenciosamente. melhor prestar atenção nos pedaços de comida caindo das  bocas matracando sobre futebol, bunda e banana.

até hoje lembro, queria ter tido a coragem de ser rude, de me recusar a deixar morrer, de ficar indignada com o peso que essas três palavras levaram. eis o que queria ter dito:

“não. eu vou terminar de dizer o que quero dizer. três coisas

  1. você não percebe ou não quer perceber o peso machista que esse comentário levou. pelo menos isso o que? pelo menos ele fica por cima, pelo menos ele não dá o cu, pelo menos ele não é a mulher da relação… porque ser mulher é horrível, ainda mais mulherzinha de outro homem. ativo e passivo. diz que é melhor ser ativo,  que ele é menos homem se não agir de certa forma, que é melhor “meter” do ser “metido”, que é melhor comer do ser comido. o “metido” o “comido” o “passivo”, é quem? se tu não nasceu com um pênis tu não mete. chega dessa porra
  2. tu é muito ingenuo de achar que casais homo afetivos não trocam de posição. faça me o favor. é sexo. pare de limitar  a sexualidade humana. sério. pare
  3. a última coisa. se você acha que sexo é só enfiar o pinto, tu deve transar muito mal

iria levantar e ir embora”

na vida real mesmo eu calei minha boca. bebi minha cerveja. comi carne. matraquei sobre futebol, bundas e bananas. engoli toda a merda, até perceber que estava sufocando, toda a merda que aceitei por educação, por não querer ser “aquela pessoa”, “inconveniente”, “louca”, “exagerada”, “chata”, “agressiva”, “dramática” e tantos outros mais

 apenas, ache no meio dos ciclos eternos os pontos que te deixam a vontade, seja lá como for, confortável

Ah vida

Textos da Madrugada
Então, eu recebi a encomenda.
Minha síndica é ótima.
Uma senhora gordinha, loirinha e animadinha.
A janela dela é de frente para a minha.
Bem.
Estava eu, em casa, assistindo TV e tomando uma cerveja.
Quando escuto um grito “Saaaarah!”
Assustei. Pensei se estava ouvindo direito ou só imaginando.
Segundo grito “OOOO, Saaarah!”
É, tinha alguém gritando meu nome.
Puxei a um pouco da coberta e vi minha síndica olhando sorridente “Ah, que bom! Você ainda esta acordada!”
Pensei comigo mesma “Se não tivesse eu estaria com essa gritaria toda…”
Mas disse “Éé.”
“To indo ai te entregar uma coisa que chegou pra você. Pode?” – disse ela animada.
“Ahn, num rola de jogar pela janela, não?”
“Que isso menina! Vai que cai e quebra! To indo ai…”
E antes que eu pudesse responder ela fechou a janela e apagou a luz.
Respirei fundo e esperei a batida na porta.
*TOC *TOC *TOC
Abri a porta.
Um rato branco correu para dentro do meu apartamento.
Amaldiçoei a vida.
Uma poodle hiperativa não pode resistir a exploração de um lugar novo. E junto dela uma senhora escandalosa a perseguiu apartamento a dentro.
Estava cansada. Minha paciência com as pessoas estava esgotada, tudo que queria era que aquela senhora se explodisse e levasse o rato branco junto.
Respirei fundo. Fiz contagem regressiva. “10, 09, 08, 07, morra, morra, morra…”
Não deu muito certo.
Encostei na porta e assisti a cena que infelizmente nunca sairá do meu cérebro.
“OOOO, Sarah, encurrala ela ai do outro lado da mesa…”
Estava irritadíssima, se fosse para eu me mover seria para pegar uma faca na cozinha e acabar com aquilo tudo.
“Não posso.”
“Uá, por que!?”
“Sou alérgica a cães.” “Moça, para o seu próprio bem, vá embora!”
“Nóóó, que pena…”
Suspirei.
Essa correria patética no meu apartamento durou por volta de uns 05 minutos.
Ela pegou o rato. Andou mole até a porta. Entregou a correspondência. Colocou um pé porta a fora, virou e disse escandalosamente:
“Aqui, se você precisar, conheço uma faxineira nus trinques!” Piscou um olho.
Eu não sorri. “Não, obrigada. Tchau.”
“Tchau, menina. Nossa, você é linda, viu! Magriiiiiinha… Pena que não dura, eu também era um varapau assim!”
Fiz uma expressão estranha similar a um sorriso.
Enquanto fechava a porta a ouvi batendo na porta do 305. “Boa sorte.”
Abri o envelope e dei de cara com um CD.
Animei.
O abri e enfiei no meu PC.
Um dos melhores CDs nacionais que já ouvi. Divertido. Crítico. Punk. Bom.
Des-amaldiçoei a vida. Tomei mais um gole da cerveja. Cada segundo do CD valeu toda a situação de merda passei naquele dia infernal.
Sorri. Com vontade. Suspirei.
“Ah, vida…”

Bordel

Contos

Queria sair dali.

Queria poder respirar algo que não fosse a fumaça dos cigarros.  Ela olhava para mim e ria. Ria de algo que eu não estava achando engraçado. Ela podia ser bonita, talvez, com menos maquiagem e menos fumaça.

Olhei em volta, não reconheci. Olhei para o chão. Olhei para a minha mão. Notei um pequeno corte. Eu não o sentia. Olhei em volta, vi muitos rostos, muitos cigarros, muita bebida, muitos decotes e muitas carteiras vazias.

Bordel.

É agora sei onde estou, mas eu não sei aonde estou. Tentei levantar, mas a mulher me segurou pelo braço e disse alguma coisa que não consegui entender. Culpei a música alta. Puxei meu braço com mais força, mas ela não soltou. Só olhou pra mim. Séria. Entendi o que ela tinha dito. “Dinheiro”. Claro, dinheiro. Era mesmo um bordel no final das contas, não poderia esperar menos. Coloquei minha mão no bolso, tirei minha carteira e a entreguei uma nota de cem e outras duas de cinquenta. Ela pegou, contou, sorriu e me devolveu uma das notas de cinquenta.

Enquanto guardava o dinheiro no vasto decote, ela olhou para mim e falou algo que eu consegui ler nos seus lábios vermelhos.

“Volte sempre.”

Ela saiu e eu observei o seu andar rebolativo.

Coloquei o dinheiro no bolso e quando saia um menino, de uns quatorze anos, me entregou um casaco. Vesti o casaco e dei pra ele a nota de cinquenta rejeitada pela mulher dos lábios vermelhos.

Ele sorriu.

Abri a porta, o frio me acolheu. Tudo estava branco e úmido. Neve. Andei mais dois passos e dei de cara com um pássaro. Morto. Congelado. O observei por mais um tempo e notei calma, serenidade em seus pequenos olhos negros. Como se estivesse tendo um sonho bom. Lembrei-me de algo que meu pai dizia. Coloquei as mãos nos bolsos, sai andando e pensando naquilo. Abri a boca e sussurrei comigo mesmo.

“Eu dormirei quando estiver morto.”

E eu só continuo andando

Textos da Madrugada, Você

Queria escrever sobre você, mas minhas mãos doem, as palavras já não conseguem mais formar frases e as frases já não fazem mais sentindo. Estou deitada e o notebook queima minhas coxas, deixo arder. Tenho preguiça e nenhuma força para movê-lo. Meu pescoço dói e apesar de eu acreditar que já deveria ter me acostumado com essa dor recorrente, ainda dói e eu ainda espremo meus olhos enquanto tento fazê-lo estalar. É de madrugada, mas eu escuto barulho vindo da cozinha, lanches pós-meia-noite. Sinto cheiro de cigarro entrar pela minha janela junto com o vento e sinto vontade de fumar, mas não posso. Sinto a ironia de adorar ficar sozinha, mas não suportar ficar comigo mesma. Dentes sobrepõem em um sorriso repuxado e sinistro. Estou sem internet.

Minha bexiga aperta e eu sinto um formigamento que fazem minhas coxas se aproximarem. Preciso urinar. Não quero levantar. Vou segurar, na esperança que essa vontade passe. Aumento o som da música, Right Through You de Alanis Morissete grita nos meus tímpanos. Encosto minha cabeça na parede e fecho meus olhos por alguns minutos. A música parou. O mundo se calou. Eu gosto assim.

Às vezes quando ando na rua escuto chamando meu nome, mas quando olho não tem ninguém lá. Pergunto-me o que escuto? quem me chama e se eu não virar será que continuará chamando? Será que virá até mim e me puxará pelo ombro? Não sei. Agora eu não olho mais para trás e fico esperando que me puxem pelo ombro, mas nunca acontece e nada nunca me puxa. Então eu só continuo andando.

Aço Inox

Textos da Madrugada

Vou me arrastando ate o quarto e entro embaixo das cobertas, as lágrimas encharcam meu travesseiro. Meu monstro. Meu pequeno monstro. Ligo o computador. Coloco uma música para tocar. Uma música triste. Fico no escuro com a música preenchendo o vazio. As lágrimas não param e eu fico desejando não ter braços. Fico desejando não ter tato. Viro-me e observo com clareza as sombras dos livros espalhados e empoeirados. Quero ler, mas não tenho livros novos com historias novas, só os mesmos, velhos, empoeirados e repetidos. Penso em fugir, penso em pegar minha mochila e simplesmente ir embora, deixar tudo pra trás. Esquecer tudo e todos, mas não vai adiantar. Nada fica no passado. Fico desejando ter amnésia.  A música para, coloco a mesma para tocar de novo. Meu estomago ronca. Como posso pensar em comer numa hora dessas? Pego meu celular. São 02h45min. Ainda esta cedo. Por alguma razão, eu sinto vontade de dançar. Continuo deitada e desisto de comer. Não quero levantar. Minha imaginação flui e as sombras se tornam minhas amigas. Ficam ao meu redor recolhendo os pedaços mortos da minha pele. Sinto vontade de mascar um chiclete. Sinto vontade de vomitar. Sinto vontade de socar alguém. Sinto vontade de morrer. Sinto vontade de foder alguém. Sinto vontade de correr… Correr, sair correndo e só parar quando meus pés virarem duas feridas pulsantes. A imagem me deu mais vontade de vomitar. Ouvi um barulho na tranca, alguém estava tentando entrar, quem!? E por quê? A porta abre. Não tem ninguém. Minha imaginação. Droga! Não sei mais… Meu estomago ronca, pode ser a fome. Levantei. Fiquei tonta. Levantei rápido demais. Vou até a cozinha que esta um lixo, mas eu não ligo. Pego um copo na pia e passo uma água rápida. Sirvo-me café com leite e enquanto o esquento no microondas eu pego uma torrada, abro a gaveta e lá esta ela, reluzente, afiada e mortífera. Eu deixo a torrada encima da mesa e a pego com as duas mãos. Tento lutar contra, mas não posso. Sou levada e nesse desespero em tentar sentir algo a espremo em minha mão. Pequenas e brilhantes gotas de vida escorrem e caem no chão. Eu a senti. Abri a mão, ela caiu, olhei para o corte e ele sorriu pra mim. Lambi. Uma lambida para ter certeza. Sim, é sim. Fecho meu punho, espremo meus olhos lacrimejados e abro minha boca num sorriso onde um filete de sangue corre fugido dos meus lábios.